PESQUISA REALIZADA NA UFSC ANALISA TRAJETÓRIAS DE ESTUDANTES DO PRÓ-UNIVERSIDADE, INGRESSOS EM CURSOS DE MAIOR DEMANDA VIA POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS

20/08/2013 14:24

Banca de defesa da dissertação. Da esquerda para a direita estão o Profº Drº Lucídio Bianchetti (UFSC), Francini Scheid Martins, a Profª Drª Maria das Dores Daros (UFSC), a Profª Drª Marilu Diez Lisboa (UNIPLAC) e a Profª Drª Nadir Zago (UNOCHAPECO).

Pesquisa realizada na UFSC analisa trajetórias de estudantes do Pró-universidade, ingressos em cursos de maior demanda via Políticas de Ações Afirmativas.

A pesquisa sobre estudantes egressos do curso Pró-universidade (anteriormente denominado Pré-vestibular da UFSC), ingressos em cursos de maior demanda na Universidade Federal de Santa Catarina, via Políticas de Ações Afirmativas, foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE-UFSC). Dessa pesquisa resultou a dissertação de mestrado defendida pela Pedagoga Francini Scheid Martins, no dia 16 de agosto de 2013, sob orientação da professora doutora Ione Ribeiro Valle e coorientação do professor doutor Lucídio Bianchetti, apoiada pelo IPEA/ANPEd por meio da concessão de bolsa de Incentivo à Pesquisa.

A dissertação é o aprofundamento de um estudo iniciado durante o estágio em Orientação Educacional nas últimas fases do curso de graduação em pedagogia do CED que teve como objetivo realizar um acompanhamento dos estudantes egressos do curso Pré-vestibular da UFSC. Objetivava-se analisar as trajetórias desses estudantes após a conclusão do curso, especialmente no que diz respeito à escolarização universitária. Concluiu-se neste trabalho que muitas indagações ainda continuavam abertas e, portanto, o estudo poderia abordar diversas delas, não se esgotando em uma pesquisa no nível da graduação. Este foi o mote que levou Francini a ingressar no mestrado em Educação (PPGE/CED/UFSC).

A pesquisa intitulada “Quando os ‘degradados’ se tornam ‘favoritos’: um estudo de trajetórias de estudantes do pré-vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina ingressos em cursos de maior demanda” – em referência ao livro de Reginaldo Prandi: Os favoritos degradados, publicado pela Ed. Loyola, na década de 1980 -, foi realizada junto a jovens egressos do Curso Pré-Vestibular da UFSC, ingressos em cursos de graduação de maior demanda nesta universidade, a saber, Direito, Engenharias e Medicina, por meio do “dispositivo meritocrático” vestibular. Fez-se um estudo das trajetórias de nove (9) egressos do referido pré-vestibular, por meio de entrevistas semiestruturadas.

Justifica-se a abordagem pelo fato de continuarem notórias as questões relacionadas à educação superior pública brasileira, permeando os debates sobre o desenvolvimento do País, haja vista que, no imaginário social, o acesso a este nível de ensino está intimamente ligado a melhores condições de empregabilidade e, consequentemente, de mobilidade social.

Partindo dos relatos, buscou-se, a partir da análise de aspectos das trajetórias escolares dos entrevistados, identificar os significados do prolongamento da escolarização, as “razões do improvável” (como alguém ´destinado´ ao insucesso consegue subverter a suposta ordem estabelecida), o acesso e a permanência destes jovens nos cursos nos quais ingressaram.

Os dados analisados evidenciam um conjunto de condições capazes de explicar a inesperada continuidade dos percursos escolares por parte de jovens de camadas populares, como projetos familiares e mobilização pessoal.

Os projetos familiares foram realizados em diversos contextos, tais como:

Pelos pais: identificou-se que tais estudantes pertencem a famílias denominadas de educógenas pelos especialistas da área, as quais realizaram investimentos na vida escolar dos filhos, sendo que estas famílias são capazes, por suas atitudes, hábitos e estilo de vida, de contribuir para que os filhos obtenham sucesso escolar.

Pelas mães: ao oferecerem aos filhos, desde o início da escolarização, apoio afetivo, que se traduz em incentivo.

Por redes de relações: identificou-se que os estudantes aportaram capital social e cultural, importantes elementos para a mobilização no mercado escolar, por meio da construção de redes de relações que os favoreceram no momento de ingressso e manutenção na universidade.

Outro aspecto que deve ser ressaltado diz respeito ao Curso Pró-universidade. Comprovadamente este constitui-se como elemento determinante para o ingresso dos estudantes na educação superior. Os jovens universitários entrevistados ingressaram na educação superior via Políticas de Ações Afirmativas, sendo seis (6) por meio daquelas destinadas a estudantes oriundos de escolas públicas e três (3) daquelas destinadas a estudantes negros.

A configuração atual do sistema de ensino superior brasileiro tem contribuído para uma diversificação do público universitário. No entanto, são muitas as dificuldades encontradas na tentativa de romper com o modelo historicamente construído, no qual a pobreza e a escolaridade de curta duração parecem constituir sinônimos.

Nessa perspectiva, conclui-se que o caminho para o “degradado” tornar-se um “favorito” é estreito e constituído de muitos percalços. As análises das trajetórias evidenciam que a batalha deve estar posta em suprimir o fosso existente entre os jovens oriundos das escolas públicas e a universidade pública, tendo claro que as Políticas de Ações Afirmativas são medidas paliativas, as quais são necessárias, imprescindíveis até, por um período, mas não deveriam perenizar-se.  Apontamos a necessidade de uma reestruturação na educação básica pública brasileira, visto que esta não propicia uma formação que possibilite o ingresso destes estudantes na educação superior pública, sobretudo nos cursos de maior demanda.

Por fim ressatamos que, a partir do mês de outubro, a dissertação, com a agregação das contribuições da banca de defesa do mestrado, estará disponível integralmente no site: www.ppge.ufsc.br

Contato:
Francini Scheid Martins: francinischeid@hotmail.com